CIDADANIA À LUZ DA TEOCRACIA
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Teologia, Missão, Administração Eclesiástica, Ministério, Exegese, Pregação Expositiva, Sermões, Estudos Bíblicos, Meditações, Família.
14 de setembro de 2023
28 de julho de 2019
SENTADOS À MESA COM JESUS
(Mt 26.17-30)
Um dos lugares mais agradáveis que sempre buscamos
para alegria de nossas almas é a mesa. Nas mesas dos restaurantes, das
sorveterias ou da casa de um amigo, podemos desfrutar de momentos que marcam
nossa vida na companhia das pessoas que amamos. A mesa é símbolo de
hospitalidade, comunhão e aceitação. Esta é uma das razões pelas quais Jesus fez da mesa um lugar muito especial. A mesa da
cerimônia da Ceia do Senhor é o lugar para o qual Jesus nos convida para o
brinde da comunhão. À luz do texto que lemos, quero compartilhar com você o que significa
sentar-se à mesa com Jesus.
Em primeiro lugar, a mesa de Jesus é o lugar onde a verdade prevalece. Naquela mesa
estava Judas, o discípulo que traiu Jesus. Uma verdade estava oculta e precisava ser revelada. “Em verdade
vos digo que um de vós me trairá... Então Judas, que o traía, perguntou: Acaso,
sou eu Mestre? Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste” (Mt 26.21, 25).
Judas é o retrato da desonra e da vergonha. Ele é a
figura daqueles que nos beijam na face cravando o punhal nas costas. Judas é a
figura que retrata a dissimulação; é a manifestação infame da aleivosia
que expressa o caráter dos
pérfidos. Ele é o retrato do
falso irmão que nunca age face a face, mas sempre às escondidas, por trás dos
bastidores. Sua especialidade é o disfarce, sua obra característica é a ruina
de quem obstrui a concretização de suas
ambições pessoais. Judas é a figura
dos que conseguem enganar os homens, mas não conseguem enganar a Deus. Ele é a
figura dos que desonram a Deus e envergonham o evangelho. Na mesa de Jesus,
Judas é desmascarado, porque a mesa de Jesus é o lugar da verdade.
Em segundo lugar, a mesa de Jesus
é o lugar do encontro
entre Deus e os pecadores eleitos. A mesa de Jesus foi o lugar onde Deus e os seus
escolhidos sentaram-se face a
face
e brindaram a celebração de uma aliança eterna, por meio da qual a união entre
ambos foi selada com o sangue
precioso
de Jesus, que seria derramado na cruz. Naquela
mesa, o Deus Unigênito, empunhando um cálice com vinho, convidou: “Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o
sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados”
(Mt 26.27-28). “Em favor de
muitos” – disse Jesus – não de todos os pecadores. Embora seu sacrifício tenha
sido suficiente para todos, mas é eficaz somente para os eleitos. Cristo veio
ao mundo para morrer em favor daqueles que o Pai lhe deu. Estava selado o pacto da salvação e a união eterna entre Deus e aqueles
que, em Cristo, foram designados para a vida eterna, para contemplarem a glória
que Jesus teve com o Pai, antes que o mundo existisse (Jo 17.9, 11, 24).
Uma vez
que o sangue foi derramado para a purificação de pecadores, santidade é o
requisito exigido daquele que senta à mesa com Jesus. “De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor
indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o
homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice. Porque quem come e
bebe, come e bebe para sua própria condenação, se não discernir o corpo do
Senhor” (1Co 11.28-29). Portanto, purifique-se antes de sentar-se à mesa
com Jesus
Em terceiro lugar, a mesa de Jesus é o lugar da recordação. “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22.19).
A mesa de Jesus é o lugar que nos traz a lembrança que Deus não se esqueceu de nós e que jamais devemos
nos esquecer do que ele fez por nós: o pacto da salvação, a aliança eterna, firmada
por Deus pela mediação de Jesus. A mesa
de Jesus é o lugar onde a
promessa de Deus é ratificada e cumprida. Isto jamais deve ser esquecido.
É
inevitável que lembranças do nosso passado sejam esquecidas no futuro. Mas, por
favor, preserve em sua memória a lembrança deste pacto cada vez que você, junto
com outros irmãos, sentar-se à mesa com Jesus. Em memória dele, perpetuemos esta lembrança, até que
ele volte para reunir-se conosco e permanecermos com ele, juntos para sempre.
Em quarto lugar, a mesa de Jesus é o lugar da
promessa. Após o brinde com
seus discípulos, Jesus fez uma solene promessa: “E digo-vos que, desta hora
em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de
beber, novo, convosco no reino de meu Pai” (Mt 26.29).
A mesa de Jesus é o lugar que nos faz lembrar da promessa que ele mesmo fez solenemente para alimentar a nossa esperança: “... até aquele
dia em que hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai”. Um dia porvir, nós estaremos com ele em sua própria casa. Então, como convidados
de honra, haveremos de sentar-nos com ele à mesa, a mesa da comunhão e da
hospitalidade divina. Haveremos de brindar a vitória conquistada com o
sacrifício de sua vida pelo qual fomos reconciliados com nosso Criador. Naquele
dia, nós, somente nós, que fomos leais a ele; mesmo que nunca o tenhamos visto, mas nele tendo crido e nele tendo esperado, haveremos de vê-lo como ele é. Não sei que surpresa
ele tem para nós, mas de uma coisa estou certo: ele cumprirá sua palavra, pois por nós
ele viveu e morreu.
Em quinto lugar, a mesa
de Jesus é o lugar da adoração verdadeira. "E tendo cantado um hino, seguiram para o monte das
oliveiras" (Mt 26.30). Hino é o
cântico espiritual por meio do qual Deus é louvado pelos seus legítimos
adoradores. As Escrituras estão
cheias de expressões que denotam o chamado a todo homem a adorar a Deus. "Cantai
ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor todas as terras. Cantai ao SENHOR,
bendizei o seu nome; proclamai a sua salvação, dia após dia" (Sl
96.1-2).
Jesus estava ciente de que a comunhão com Deus é
fonte de alegria que emana do coração daqueles que invocam a Deus de alma pura e entoam hinos de exaltação ao
Criador, celebrando os seus grandes feitos. "Cantai ao SENHOR um cântico
novo, porque ele tem feito maravilhas; a sua destra e o seu braço santo lhe
alcançaram a vitória" (Sl 98.1).
Jesus estava ciente de que o culto é uma expressão de
adoração verdadeira que procede de adoradores que não usam máscaras; de pessoas
que manifestam integridade de caráter, isto é, de homens e mulheres de
intenções corretas, de coração e lábios puros. Foi por esta razão que ele, num encontro com uma samaritana, uma mulher de moral suspeita, dirigiu-se a ela nos seguintes
termos: "Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura
para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o
adorem em espírito e em verdade" (Jo 4.23-24).
Convido
você a vir e sentar-se à mesa com Jesus, sabendo que, para isso, você precisa
ter certeza de que a mesa de Jesus é o lugar da verdade, onde as máscaras devem
ser tiradas; é o lugar do encontro real e pessoal com Deus, o Supremo
Legislador e Juiz de todos os homens. Nunca esqueça de que a mesa de Jesus é o
lugar da recordação, onde Deus e o homem brindam a vitória de Cristo sobre o
pecado e a morte. Não esqueça jamais de que a mesa de Jesus é o lugar de uma
promessa feita por Deus de que, um dia no porvir, estaremos reunidos com Ele na
mesa de Jesus. Nunca esqueça de que naquela mesa estarão somente os santos que
ele selecionou para contemplarem a glória que Jesus teve com o Pai, antes que o
mundo existisse.
13 de fevereiro de 2019
O USO DA TEOLOGIA NA PREGAÇÃO EXPOSITIVA
José Vidigal
Queirós [1]
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE: Teologia
Bíbica, Escrituras, pregação, exposição.
INTRODUÇÃO
A exposição da Bíblia Sagrada através da pregação pública é a tarefa
prioritária dos vocacionados para o ministério eclesiástico. Sendo a igreja a única
detentora dos oráculos divinos, ela tem a incumbência de proclamar ao mundo a
mensagem que lhe foi revelada, através da qual Deus se dá a conhecer - sua
natureza, suas obras e seus desígnios - para que seu nome seja invocado em toda
a terra. Mas as razões pelas quais a igreja alça sua voz profética têm suas
raízes nas necessidades espirituais do ser humano. Isto implica dizer que a
pregação expositiva é indispensavelmente útil para atender às demandas
da natureza espiritual humana.
Mas, qual há de ser o conteúdo da pregação e qual a fonte deste conteúdo?
Indubitavelmente, a resposta é: o conteúdo é a Palavra de Deus e sua fonte é a
Escritura. O pressuposto básico para o estudo e a pregação da doutrina cristã,
em geral, é que Bíblia é a palavra de Deus revelada na medida da necessidade
humana. Portanto, para que a Palavra de Deus seja comunicada com exatidão,
clareza e eficácia, a pregação expositiva é o meio de se obter isto.
Por caracterizar-se como expositiva, a pregação há de ser o meio pelo
qual o conteúdo da revelação divina, as Sagradas Escrituras, passará por um
processo de análise exegética. O resultado final, presume-se, não é outro senão
a essência bíblico-teológica da mensagem que o autor do texto sagrado comunicou
aos receptores originais de sua mensagem.
Uma vez que a teologia bíblica emana da exegese, o conteúdo da pregação é
indiscutivelmente teológico em toda a sua essência. Esta é, portanto, a
proposição a que neste estudo se destina e que se busca comprovar.
1.
O
fundamento da pregação bíblico-teológica
Suprir as necessidades espirituais humanas constitui-se na razão
fundamental da pregação expositiva. Além disso, há objetivos específicos que a
pregação da Palavra de Deus deve atingir. O primeiro a ser citado, consiste no
fato de que a pregação expositiva é um meio de evangelização. Argumentando
sobre este objetivo, Liefeld afirma que “quanto mais as pessoas sabem sobre a
doutrina e a vida cristã quando se convertem, mais adiantadas estarão nos
primeiros tempos de vida cristã”. (LIEFEL, Walter L., 1988, p. 20).
Outro objetivo específico da pregação expositiva consiste em declarar os
desígnios de Deus para a igreja. O erro mais cometido com respeito a isto
consiste em procurar a vontade divina em versículos isolados, algumas vezes,
por acaso. Descobrir e declarar a vontade de Deus requer o conhecimento do seu
caráter e como ele executou sua vontade ao longo da história. Portanto, a
exposição da Escritura, de forma fiel e contínua há de equipar o povo de Deus a
tomar decisões baseadas no nosso conhecimento adquirido sobre as diversas
maneiras como Deus age.
Do ponto de vista divino, a pergunta pela necessidade da pregação
expositiva é respondida pelas Sagradas Escrituras, através do conceito que lhe
é atribuído e das finalidades para as quais elas foram designadas. O apóstolo
Paulo, escrevendo a Timóteo, fez uma declaração na qual ele subentende que as
Escrituras são o registro divinamente inspirado de tudo que Deus revelou para
aperfeiçoar individualmente os membros da igreja em seu caráter e conduta,
visando sua habilitação à prática de toda boa obra, referente ao exercício do
ministério cristão (2Tm 3.16-17).
Revelação implica um revelador e um destinatário. A Escritura é uma
mensagem da qual Deus é o autor e o homem, o receptor e comunicador aos demais.
O discurso profético há de ser a voz de Deus através do homem como seu
porta-vez. Segundo Vanhoozer, “a própria Bíblia descreve Deus como o agente do
discurso: aquele cuja Palavra chega a Israel por meio da lei e dos profetas, e
então ao mundo na pessoa de Jesus Cristo e de seu evangelho”. (VANHOOZER, Kevin
J. Teologia Primeira: Deus, escritura e
hermenêutica. São Paulo: Shedd Publicações, 2016, p. 41.).
Na tentativa de descrever a relação entre Deus e a Escritura, Vanhoozer
assevera:
Afirmo
que o melhor meio de considerar Deus e a Escritura juntos é reconhecer Deus
como o agente comunicativo e a Escritura como sua ação comunicativa. A virtude
desse constructo, no que tange à teologia primeira, jaz na tese implícita de
que ninguém é capaz de discursar a respeito de Deus à parte da Escritura; e
tampouco fazer justiça à Escritura de forma abstrata a partir de sua relação
com Deus. Se a Bíblia é um tipo de ação comunicativa de Deus, segue-se que ao
usar a Escritura não se lida apenas com uma informação a respeito de Deus;
entra-se em contato com o próprio Deus – com Deus em ação comunicativa. [2]
A pergunta sobre o que é a Bíblia, Graeme Goldsworthy responde, expondo
argumentos sobre três intitulações enfáticas: (1) “A Bíblia é a Palavra do único
Deus” - uma abordagem sobre a unicidade e a singularidade de Deus como base
para uma concepção correta de sua autoridade suprema; (2) “A Bíblia é a única
Palavra de Deus” - a singularidade e a unidade da Bíblia resulta da
unicidade divina; (3) “A Bíblia é a Palavra de Deus sobre o único caminho
da salvação” - uma abordagem bíblico-teológica a respeito da
soteriologia, visando afirmar a convicção cristã a respeito do único caminho de
salvação. [3]
Indiscutivelmente, tais conceitos denotam axiomas de cunho teológico dos
quais derivam o conteúdo doutrinário da pregação. Deve-se levar em conta que,
durante o progresso da revelação, a palavra de Deus está na boca de um profeta,
em forma humana e é, ao mesmo tempo, revelação de Deus e do homem diante de
Deus. Isto faz com que, de acordo com Shreiner, “a palavra de Deus, transmitida
pelos profetas e confirmada na vida do povo como transmissão de uma mensagem e
efeito de uma força, transforma-se em uma categoria teológica capaz de
compreender e explicar outros lados e intervenções de Deus...”. (SHREINER, J. Palavra e Mensagem do Antigo Testamento.
São Paulo: Teológica, 2004, p. 26). Isto torna necessária a exposição
metodológica das Escrituras, cuja interpretação, impreterivelmente, resultará
da exegese bíblica.
A questão que emerge da necessidade de uma interpretação fiel do texto
sagrado jamais deve ser negligenciada quando se trata de pregação expositiva. O
risco da subjetividade substituir o conteúdo real da mensagem bíblica não é dos
menores, uma vez que todo pregador já está munido de uma confissão de fé
adotada como seu referencial doutrinário à luz da qual busca interpretar as
Sagradas Escrituras. A aplicação de regras e diretrizes é o fator decisivo
quando se trata da fidelidade do expositor às Escrituras. Por esta razão, antes
de funcionar como expositor, o pregador funciona como exegeta.
Segundo os renomados hermeneutas, Köstenberger e Patterson, ao encarar
uma perícope como objeto da exegese o intérprete deve considerar que o texto
das Escrituras, “não é neutro, isto é, passível de uma grande variedade de
interpretações, todas reivindicando ser uma leitura igualmente válida de
determinada passagem [...]”. Eles são do parecer que “ texto não é, tampouco,
autônomo [...] é, antes, um produto planejado e moldado por autor particular e
exige, nesse sentido, uma interpretação cuidadosa e respeitosa”. (KÖSTENBERGER,
Andreas J.; PATTERSON, Richard D. Convite
à Interpretação Bíblica: a tríade hermenêutica, história, literatura e
teologia. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 58.).
2.
Teologia a partir da
exegese bíblica
Qualquer que seja o
conceito de teologia, no contexto da fé cristã, este há de ser essencialmente
bíblico. Teologia (do grego Theos = Deus e Logos = palavra,
proferida a viva voz, que expressa uma concepção ou ideia; discurso),
etimologicamente, significa o discurso sobre Deus. Apresentando uma
definição de teologia, John Piper postula: “O assunto da teologia é Deus, o
Criador, o Senhor vivo, conforme ele é no seu relacionamento com tudo quanto
não é ele mesmo – inclusive nós mesmos [...], porque a Bíblia se centraliza em
Deus governando, julgando e salvando a humanidade”. [4]
De modo específico,
referindo-se à Teologia Bíblica, ele a define como sendo “a disciplina que
sintetiza as descobertas da exegese de modo temático e também histórico”.
(PIPER, J. 2012, p. 74.). Este conceito atribui à teologia a conotação de que a
mesma é a substância da mensagem do texto bíblico explorado exegeticamente.
Isto torna evidente o fato de que toda interpretação exegética da Bíblia é
teológica e tem como destino servir como matéria do sermão.
Mas surge uma questão:
Como a teologia e a leitura bíblica se correlacionam entre si? Em sua resposta,
Piper declara:
Em primeiro lugar: a
teologia como atividade corretamente entendida é mesmo a leitura da Bíblia,
conforme ela deve ser, e a leitura da Bíblia, corretamente entendida é mesmo a
teologia, conforme ela deve ser. Em segundo lugar: a teologia como depósito e
recurso pode acrescentar muita coisa à leitura da Bíblia por parte do crente
individual, do grupo de estudo, da congregação que estuda junto e da igreja no
seu sentido mais amplo. [5]
Assim sendo, a atividade teológica cristã não
é tarefa exclusivamente acadêmica; não diz respeito a uma versão racional do
conhecimento de todas as coisas relacionadas à fé. Nestes termos, todo leitor
da Bíblia, quando interpreta e aplica o conteúdo da mensagem lida, exercita sua
habilidade da busca e apropriação do conhecimento da revelação divina.
Goldsworthy considera que “todo cristão é um intérprete; todo cristão deve ser
um teólogo bíblico”; e, com base nesta premissa, declara que “o pregador é um
intérprete da Escritura, como é todo cristão que lê a Bíblia e procura dar
sentido à aplicação da Bíblia à nossa vida diária”. [6]
Em resposta à pergunta
sobre os motivos pelos quais os cristãos comuns devem ocupar-se com a teologia,
Piper apresenta quatro razões: (1) A teologia mostra a todos nós como devemos
abordar a Bíblia; (2) A teologia coloca diante de nós a substância da Bíblia;
(3) A teologia ajuda a todos nós a mantermos o ponto de vista da Bíblia; (4) A
teologia nos deixa prevenidos, de antemão, contra todos os modos heréticos de
entender a Bíblia. [7]
Indiscutivelmente, a teologia é indispensável à pregação expositiva.
A teologia se torna necessária
em razão da necessidade religiosa humana. A prática da religião tem se
desenvolvido desde os primórdios da história em virtude da aspiração
transcendental do homem. Através da pregação expositiva das Escrituras, a
igreja age como canal de transcendência para o homem. Portanto, uma concepção correta de Deus é indispensável
para a garantia de uma relação ajustada entre a criatura e o seu Criador. Assim
sendo, religião e teologia estão interligadas e são interdependentes. Nesta
perspectiva, a teologia é uma ciência a serviço do homem para que, através
dela, ele venha a compreender a ciência revelada de Deus. Este é o ponto no
qual a teologia e a ciência se interceptam. Henry Thiessen, interpreta esta
interceptação da seguinte forma:
A
relação entre teologia e religião é a de efeitos, em esferas diferentes,
produzidas pelas mesmas causas. No campo do pensamento sistemático, os fatos
que se referem a Deus e Suas relações com o universo levam à teologia; na
esfera da vida individual e coletiva, eles levam à religião. Em outras
palavras, na teologia um homem organiza seus pensamentos com referência a Deus
e ao universo, e na religião ele expressa, em atitudes e ações, os efeitos que
esses pensamentos produziram nele. [8]
A
questão suscitada por esta discussão demanda por um método de interpretação das
Escrituras. Uma vez que os livros sagrados foram escritos em um contexto
histórico-cultural remoto, a busca pela interpretação fiel da mensagem bíblica,
que possa ser aplicada ao contexto do leitor atual, deu vazão ao surgimento da
Hermenêutica e da Exegese como ciências da interpretação a serviço da
homilética. Alexandre Jr é de parecer que “exegese e homilética são disciplinas
que se complementam como partes de um mesmo todo”. (ALEXANDRE Jr, Manoel. Exegese
do Novo Testamento: um guia básico ara o estudo do texto bíblico. São
Paulo: Vida Nova, 2016, p. 381.). Estes foram os recursos metodológicos
utilizados pelos eruditos com o objetivo específico de descobrir, entender e
expressar com precisão e clareza todo o conteúdo da revelação divina,
registrado pelos hagiógrafos, de tal forma que sua mensagem satisfaça
plenamente às exigências do ministério eclesiástico, no que se refere ao
exercício do seu ofício profético, em especial, a pregação expositiva. Concebendo
a teologia como uma ciência, Hodge afirma:
A
Bíblia é um sistema teológico não mais que a natureza é um sistema químico ou
mecânico. Encontramos na natureza os fatos que o químico ou o filósofo mecânico
tem a examinar, e à luz deles poder verificar as leis pelas quais são
determinados. E assim a Bíblia contém as verdades que o teólogo precisa
coligir, autenticar, organizar e demonstrar em sua relação natural umas com as
outras. [9]
O método teológico de
exposição das Escrituras deriva diretamente de uma análise exegética do texto
sagrado. Mas, como isto pode ser feito e por que? Há três razões pelas quais
isso acontece. A primeira consiste no fato de que é necessário descobrir o
significado da revelação, ou seja, a exposição das Escrituras requer uma interpretação
fiel obtida através da exegese, cujo processo de análise culmina na emissão do
real significado bíblico-teológico do
texto. A segunda razão reside na necessidade de se compreender o significado
da revelação. Isto ocorre porque a aplicação prática requer inteligibilidade da mensagem pregada.
Portanto, a exposição homilética do texto interpretado só se torna eficazmente
inteligível aos ouvintes, quando o conteúdo é didaticamente sistematizado. A
terceira razão consiste na aplicação do significado da revelação à
prática. A sistematização didática de qualquer conteúdo bíblico há de sempre
ocorrer através da especificação temática
do conteúdo teológico resultante da exegese. Este não é outro, senão, o
pensamento teológico do texto.
Isto implica que todo
resultado de uma análise exegética do texto sagrado destinado à pregação é
essencialmente bíblico-teológico. Por conseguinte, isto significa dizer que a
teologia (o discurso sobre Deus) é a substância da pregação expositiva. Para um
entendimento mais claro, é necessário que se defina o que é teologia bíblica.
Goldsworthy, propõe como conceito de Teologia Bíblica a definição de Geerhardus
Vos, como sendo “aquele ramo da teologia exegética que lida com o processo da
auto-revelação de Deus registrada na Bíblia”. [10] Continuando
sua definição, ele afirma:
Do
ponto de vista do pregador evangélico, teologia bíblica envolve a busca pelo
grande quadro, a visão geral da revelação bíblica. Uma característica da
natureza da revelação bíblica é que ela conta uma história, em vez de
apresentar princípios atemporais abstratos. A Bíblia contém, realmente, muitos
princípios atemporais, mas não de forma abstrata. Eles são dados em um contexto
histórico de revelação progressiva. Se permitimos que a Bíblia conte a sua
própria história, achamos um todo significativo e coerente. [11]
No percurso da
história, a igreja cometeu erros e acertos no que se refere à teologia que
culminou na Reforma, que consistiu no retorno às origens, no que se refere à
ortodoxia cristã. Por esta razão, a igreja atual construiu seu perfil a partir
do seu contexto histórico, no qual a teologia emergiu. O pano de fundo para a
teologia bíblica não deve ser outro, senão, o retorno da Reforma à doutrina da sola
scriptura (somente a Escritura). A teologia bíblica, impreterivelmente,
deve ser sempre uma expressão fiel da revelação. Portanto, a submissão à
autoridade suprema da Bíblia é condição sine qua non para que as
pressuposições de todo intérprete tenham base na revelação da Bíblia Sagrada.
3.
O conteúdo teológico da pregação expositiva
Liefeld, argumentando sobre os objetivos e o conteúdo da pregação
expositiva, pressupõe o uso da teologia como uma alternativa. Em sua concepção,
“quem se põe a pensar sobre os objetivos da pregação expositiva, naturalmente
deve pensar em ensinar doutrina ou teologia”. (LIEFELD, p. 22). Para confirmar
tal concepção, ele declara:
O
exemplo mais comum provavelmente é a recapitulação de verdades que encontramos
nas epístolas paulinas. Constante tarefa do teólogo sistemático é sintetizar as
verdades bíblicas e relacioná-las de maneira compreensível com estruturas de
pensamento contemporâneas, e a teologia deve sempre os manter informados e
direcionar nossa pregação, mas a melhor maneira de transmitir a verdade divina
nem sempre é através de proposições. [12]
Embora ele não descarte o valor da Teologia Sistemática, reconhece que,
devido à metodologia empregada pelo teólogo na estruturação do pensamento, ela
não favorece a exposição exaustiva de um texto bíblico, escolhido pelo pregador
como fonte da mensagem. Ele propõe que a alternativa seja a Teologia Bíblica. Goldsworthy compreende
que a teologia que é bíblica tem o seguinte perfil:
Visto
que a teologia bíblica é uma disciplina descritiva, seu método é ditado
principalmente pelo modelo da própria Bíblia. Uma teologia verdadeiramente
bíblica aceita o ponto de vista bíblico sobre a revelação. Contudo, há
diferentes maneiras de lidar com o material [...]. O ponto de partida
metodológico mais apropriado é o evangelho, porque a pessoa de Jesus é
proclamada ali como a expressão final e mais plena da revelação de Deus sobre o
seu reino. [13]
A necessidade da teologia na pregação expositiva é justificada pela qualidade que a pregação deve ter. A boa
pregação há de ser aquela que transmite com fidelidade a mensagem central de um
texto bíblico. Mais que isso, a comunicação desta mensagem deve ser feita com o
uso da estrutura e dos detalhes apropriados à passagem e ao contexto e objetivo
do sermão. Ela há de satisfazer às reais necessidades dos ouvintes de maneira
consistente, sobe a égide do Espírito Santo. Portanto, para ser inteligível, o
sermão expositivo deverá ser produto de uma exegese eficaz que culmine na
formulação teológica do pensamento que o autor do texto propôs-se a comunicar.
A função do pregador consiste em comunicar com clareza e objetividade a
mensagem extraída das Sagradas Escrituras. O conteúdo da mensagem não é outro
senão aquilo que resultou de seu trabalho em busca de uma interpretação fiel e
precisa do texto sagrado. Reconhecendo que a Escritura é conteúdo da revelação
divina, então, tudo que nela está contido é exatamente aquilo que Deus quer que
o homem saiba a respeito dele. Mas, especificamente, qual deve ser o
conhecimento do qual todo ser humano tanto necessita para manter uma relação
ajustada com Deus? O conhecimento revelado de Deus consiste na resposta às
questões fundamentais que atendem às demandas transcendentais do homem.
A primeira é a pergunta sobre
a possibilidade de Deus ser conhecido. A
revelação é um fenômeno espiritual e exige fé. Sem ela não se pode conhecer a
Deus. Diante de tal concepção, temos uma questão a levantar: A fé é um
conhecimento? O fato de que o crente consegue saber sobre Deus por meio da fé
não quer dizer que a fé seja algo que resulta de uma instrução irracional, isto
é, de um cego pressentimento da obscuridade. A fé não nos mostra Deus racionalmente, mas nos faz concebê-lo razoavelmente.
A fé também consiste num ato vital de nossa faculdade mental e, portanto,
é um conhecimento desenvolvido pela percepção
espiritual estimulada pela revelação
divina. Andamos por fé e não por vista (2Co 5.7). Desta forma, tudo que
conhecemos por meio da fé não se pode obter pelo empirismo que se prende aos
fenômenos sensoriais. A fé, segundo nos diz o autor de Hebreus, é a base de sustentação das coisas que
esperamos e argumento convincente das
coisas que não vemos (Hb 11.1).
O autor da Epístola aos Hebreus escreve: "De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é
necessário que aquele que se aproxima de Deus, creia que ele existe e que é
galardoador dos que o buscam" (Hb. 11:6). É certo que o escritor não
está querendo aqui convencer os leitores de que Deus existe e sim, explicar o
conceito de fé. Portanto, a pergunta por Deus tem sua resposta na revelação,
teologicamente sistematizada para facilitar o entendimento por parte dos
destinatários da mensagem proclamada.
A revelação bíblica consiste na resposta divina às questões existenciais
do homem. Ao pregar, o mensageiro de Deus responde a tais questões através da
exposição sistematizada das Escrituras. Todo o conteúdo da Bíblia resume-se na
resposta às seguintes questões de abordagem do teólogo: (a) O que é Deus? - a
resposta traz o conhecimento ontológico do ser divino; (b) O Deus faz? -
conhecimento que responde sobre a atividade divina no universo em prol de toda
a criação; (c) Como Deus se comporta? - conhecimento necessário a uma
compreensão do caráter e da conduta divina no seu relacionamento com suas
criaturas e, de um modo especial, com o homem; (d) Qual o eterno desígnio de
Deus? - conhecimento que responde sobre o propósito soteriológico divino.
Todo o conteúdo da Bíblia é, sem dúvida, a resposta de Deus através da
auto-revelação a respeito de tudo que todo ser humano mais busca para suprir as
demandas de sua natureza limitada e para a satisfação plena do seu ser. A
tarefa do expositor da Escritura consiste, portanto, em explicar e aplicar à
vida humana o conteúdo da revelação divina como resposta às demandas do homem.
Pregar expositivamente é pregar teologicamente. Teologia e pregação expositiva
são inseparáveis; uma está a serviço da outra.
CONCLUSÃO
A pregação expositiva
assume uma natureza bíblico-teológica e as bases de seu fundamento constitui-se
nas demandas e aspirações transcendentais da natureza limitada humana. O texto
sagrado, que serve de fonte do conteúdo da pregação, emana da revelação de
Deus. O discurso divino flui por meio do porta-voz humano, o pregador
expositivo, como instrumento de comunicação da verdade divina de forma
inteligível e, para tanto, a interpretação das Sagradas Escrituras, tão
necessária à exposição precisa e fiel, há de ser obtida pelo pregador, fazendo
uso da hermenêutica e da exegese.
Para uma aplicação da
mensagem divina à vida cristã, o sermão nasce como o recurso retórico, ou
ainda, um esboço estruturado do conteúdo teológico oriundo da revelação divina,
registrada nas Sagradas Escrituras. Assim, a teologia bíblica é substância do
sermão e fonte que supre o ministério da pregação. Não há exposição bíblica que
não seja teológica e não há teologia, essencialmente bíblica, que não seja útil
ao ministério da pregação.
ABSTRACT
This study is based on the assumption that biblical
preaching is undoubtedly an exposition of the sacred text, the content of which
is extracted directly from the Bible through a process of exegetical analysis.
Thus, the meaning of the text of the Scriptures is redeemed and expressed in a
current language - Biblical Theology - intended for public exposure, aiming at
the edification of the church and the evangelization of sinners in general. In
this way, the use of theology is imperative to expository preaching. Once
biblical theology emanates from exegesis, the final result of the process of
analysis of the sacred text is to redeem the original meaning of the divine
revelation content that will be used by the preacher during the exposition of
the Word of God.
KEY WORDS: Biblical Theology, Scriptures, preaching,
exposition.
REFERÊNCIAS
ALEXANDRE Jr, Manoel. Exegese
do Novo Testamento: um guia básico ara o estudo do texto bíblico. São
Paulo: Vida Nova, 2016.
GOLDSWORTHY, Graeme. Pregando
toda a bíblia como escritura cristã. São Paulo: Fiel, 2013.
HODGE, Charles. Teologia
Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001.
KÖSTENBERGER, Andreas J.; PATTERSON, Richard
D. Convite à Interpretação Bíblica: a
tríade hermenêutica, história, literatura e teologia. São Paulo: Vida Nova,
2015.
LIEFELD, Walter L. Exposição do Novo Testamento: do texto ao
sermão. São Paulo: Vida Nova, 1988.
PIPER, John. Hermenêutica: uma abordagem interdisciplinar
da leitura bíblica. São Paulo: Shedd Publicações, 2012.
SHREINER, J. Palavra e Mensagem do Antigo Testamento. São Paulo: Teológica,
2004.
THIESSEN, Henry C. Palestras
em Teologia Sistemática. São Paulo: Batista Regular, 2014.
VANHOOZER, Kevin J. Teologia Primeira: Deus, escritura e
hermenêutica. São Paulo: Shedd Publicações, 2016.
[1]
O autor é Bacharel em Teologia, pós-graduado (lato sensu) em Teologia Bíblica; pós-graduado em A Arte da Pregação Expositiva pela
FATEBE - Faculdade Teológica Batista Equatorial, Belém-PA, e graduado em
Pedagogia pela Universidade Vale do Acaraú. Atualmente é docente do Seminário
Teológico Batista em São Luís, onde leciona as disciplinas de Teologia
Sistemática e Exegese no Antigo Testamento
.
[2]
VANHOOZER, Kevin J. op. cit. p.
41.
[3]
GOLDSWORTHY, Graeme. Pregando toda a bíblia como escritura cristã. São
Paulo: Fiel, 2013, pp. 47-52.
[4]
PIPER, John. Hermenêutica: uma
abordagem interdisciplinar da leitura bíblica. São Paulo: Shedd
Publicações, 2012, p. 72.
[5]
PIPER, John. Op. Cit. p. 81.
[6]
GOLDSWORTHY, Graeme. Op. Cit. p.
28.
[7]
PIPER, John. Op. Cit. pp. 85-94.
[8] THIESSEN, Henry C. Palestras em
Teologia Sistemática. São Paulo: Batista Regular, 2014, p. 7.
[9]
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p.
1.
[10]
GOLDSWORTHY, Graeme. Op. Cit. p. 61.
[11]
GOLDSWORTHY, Graeme. Op. Cit. p. 61.
[12]
LIEFELD, Walter L. Exposição do
Novo Testamento: do texto ao sermão. São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 22.
[13]
GOLDSWORTHY, G. Op. Cit. p. 65.
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